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Insegurança de empresários com oscilação do dólar tem impacto na alta dos preços aos consumidores no RS

Após ensaiar ritmo de queda na reta final de junho, o preço do dólar voltou a patamares bem conhecidos em meio à pandemia. Em um intervalo de quase quatro semanas, o preço comercial da moeda americana caiu para R$ 4,905, valor mais baixo em mais de um ano, ultrapassou novamente a barreira dos R$ 5 e voltou para valores acima dos R$ 5,20.

A instabilidade política está entre os principais fatores que explicam a volatilidade do preço do dólar no país, segundo especialistas. Essa oscilação aumenta a incerteza em parte dos negócios no Estado na hora de compor preços, impactando tanto na exportação quanto na importação.

Nesta segunda-feira (19), a moeda fechou em alta, cotada a 5,251, diante do temor em relação ao aumento do número de casos de covid-19 no mundo causado pela variante Delta.

A escalada no preço da moeda ocorre após estabilização registrada na semana passada. No ano, a variação acumulada no preço do dólar é de 1,19%. No entanto, comparando com a maior cotação nesse ano, a diferença é de 11,71%.

Já em relação ao menor valor registrado em 2021, houve recuo de 5,47%. O professor Marco Martins, do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da UFRGS, afirma que a volatilidade cambial é a “dor de cabeça” do empresário, principalmente dos que lidam com a importação de insumos para produtos que vão exportar no futuro.

Nesse sentido, o economista destaca que alguns segmentos, como o calçadista e de produção de alimentos, acabam sofrendo diretamente os efeitos dessa instabilidade na hora de estabelecer os preços dos itens.

“Quando você está importando matéria-prima, o câmbio está lá em cima. Aí na hora de exportar, de fazer a receita, o câmbio cai. Então, a grande questão da volatilidade é a incerteza no planejamento de curto prazo. No curto prazo, ela atrapalha muito o planejamento financeiro das empresas”, explica Martins.

A volatilidade do preço do dólar não tem efeito direto sobre a inflação, na avaliação do especialista. No entanto, a partir do momento em que as mudanças do câmbio ocorrem com maior frequência, algumas empresas acabam elevando o preço dos produtos como defesa diante desse ambiente de incerteza, destaca Martins:

“Na medida em que as empresas, na hora de fazer os seus planejamentos, têm um nível de incerteza maior, acabam tentando se proteger, estimulando a volatilidade em seus custos. Esses custos maiores representam pressão inflacionária nas contas das famílias.”

O presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Gilberto Petry, afirma que a volatilidade no preço da moeda acaba impactando mais na hora de importar.

Petry diz que isso ocorre, pois geralmente o preço da moeda apresenta mais elevação do que queda, o que beneficia o exportador, que lucra mais com a taxa de câmbio:

“Na importação é o contrário. Só beneficia se o preço do dólar baixar, o que não é muito comum”.  Petry explica que o efeito das mudanças no câmbio depende do volume de insumos cotados em dólar que cada indústria tem.

Segmentos que utilizam aço, como o de metalmecânica, ou grãos, no caso de agroindústrias, por exemplo, costumam sofrer mais com a alta da moeda norte-americana.

Por outro lado, setores com forte exportação, como o calçadista, e alguns ligados à agropecuária lucram mais com a desvalorização do real. No entanto, períodos com muita variação na cotação desorganizam a composição de preços nos dois casos.

Presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira afirma que o país não observa estabilidade no preço do dólar desde o fim de 2019.

Com o início da pandemia, a oscilação na cotação da moeda ganhou força, segundo o dirigente. Ferreira destaca que o preço do produto acaba aumentando diante da imprevisibilidade sobre a cotação:

“Essa flutuação, essa variação do dólar às vezes dificulta, porque você pode ter que colocar alguma margem de segurança nos preços. Se essa margem de segurança for muito elevada, o teu produto fica caro. Se não botar, teu produto fica mais competitivo, mas também tem prejuízo caso o preço da moeda caia na exportação ou suba na importação”.

Futuro depende do ambiente político

O aumento na entrada de dólares no país e a balança comercial favorável, que já estão caracterizados no Brasil, deveriam contribuir para a redução da cotação da moeda norte-americana.

No entanto, especialistas afirmam que a turbulência política, impulsionada pela CPI da Covid, e o mau-humor com a segunda parte da reforma tributária explicam a manutenção do dólar em patamares acima dos R$ 5.

O professor da UFRGS Marco Martins afirma que essa instabilidade política acaba afastando os investidores estrangeiros. Esse movimento contribui para a manutenção da moeda em patamares mais elevados, avalia:

“Essa incerteza de curto prazo associada ao cenário político afastou os investidores internacionais do país. Isso provoca uma saída de dólares maior do que a entrada. Isso tem pressionado a taxa de câmbio no curto prazo”.

O presidente da Fiergs, Gilberto Petry, estima que o preço do dólar deverá estabilizar nos próximos meses. A elevação na taxa de juros e a diminuição do déficit fiscal são fatores que ajudam a explicar essa projeção, segundo o dirigente.

“O déficit fiscal diminuiu tanto que o governo vai gastar mais R$ 40 bilhões nos créditos emergenciais. E a taxa de juros melhorou. Era 2%, hoje é 4,25% e deve terminar o ano em 6,5%. Então, isso estimula a entrada de dólares. Creio que vai continuar girando nessa faixa em torno de R$ 5”, diz Petry.

O presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira, também associa a cotação da moeda nos próximos meses ao cenário político no país. Ele estima a continuidade da variação nos valores do dólar nos próximos 30 ou 60 dias.

Matéria: Rádio Gaúcha e Zero Hora