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O ciclo de alta da Selic pode até ter chegado ao fim, mas a maré de alta dos juros nos rotativos do cartão de crédito não dá sinais de desaceleração. Muito pelo contrário, aliás. O juro médio total cobrado pelos bancos disparou 8,8 pontos percentuais em outubro na comparação mensal, segundo o Banco Central.
Com a escalada de setembro para outubro, a taxa passou de 390,7% para quase 400% ao ano, em 399,5%.
No caso do parcelado, ainda dentro de cartão de crédito, o juro cedeu no mês, recuando de 185,6% para 184,5% ao ano.
Já ao considerar o juro total do cartão de crédito, que considera as operações do rotativo e do parcelado, a taxa avançou de 89,8% para 95%.
Assim como o cheque especial, os rotativos do cartão são uma modalidade de crédito emergencial cara, porém extremamente acessada pela população em momentos de dificuldades.
Desde abril de 2017, o governo passou a obrigar os bancos a transferir a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado, a juros mais baixos, após um mês.
A intenção da nova regra era permitir que a taxa de juros para o rotativo recuasse, já que, em teoria, o risco de inadimplência recua com a migração para o parcelado.
Os juros no crédito livre
A taxa média de juros no crédito livre também registrou alta em outubro, ao avançar de 40,7% ao ano em setembro para 42,4% ao ano. No mesmo período de 2021, a taxa era de 32,4%.
Quando analisados os juros no crédito livre para as pessoas físicas, a taxa média passou de 54% para 56,6% ao ano de setembro para outubro. Enquanto isso, a porcentagem para as pessoas jurídicas foi de 23% para 23,5%.
Cheque especial
Uma das principais linhas de crédito livre para a pessoa física, os juros do cheque especial caíram de 134,3% em setembro para 132,5% ao ano em outubro. No crédito pessoal, a taxa passou de 40,2% para 42,4% ao ano.
Os bancos passaram a oferecer um parcelamento para dívidas no cheque especial desde 2018. A opção vale para débitos superiores a R$ 200.
Em janeiro de 2020, o Banco Central também passou a aplicar uma limitação dos juros do cheque especial, em 8% ao mês — isto é, 151,82% ao ano.
Veículos
De acordo com os dados do BC, os juros para aquisição de veículos ficaram próximos da estabilidade na comparação mensal, ao passar de 27,1% ao ano em setembro para 27,2% em outubro.
Operações de crédito livres e direcionadas
O Banco Central divulgou nesta segunda-feira que a taxa média de juros no crédito total, que inclui operações livres e direcionadas — isto é, aquelas com recursos da poupança e do BNDES —, subiu de 28,8% ao ano em setembro para 29,9% ao ano em outubro.
Já o Indicador de Custo de Crédito (ICC) cresceu 0,3 ponto porcentual (p.p) em outubro na base mensal, para 21,6% ao ano.
Vale destacar que a porcentagem reflete o volume de juros pagos, em reais, por consumidores e empresas no mês. Na prática, o indicador reflete a taxa de juros média efetivamente paga pelo brasileiro nas operações de crédito contratadas no passado e ainda em andamento.
A inadimplência nas operações de crédito
A taxa de inadimplência nas operações de crédito livre com os bancos registrou leve alta na base mensal, ao subir de 4,1% para 4,2% em outubro, informou o Banco Central.
Para as pessoas físicas, a taxa de inadimplência passou de 5,8% para 5,9% de um mês para o outro. No caso das empresas, variou de 1,9% para 2% no período.
Já a inadimplência do crédito direcionado, com recursos da poupança e do BNDES, se manteve estável em outubro, a 1,2%.
Enquanto isso, o total do crédito livre mais o direcionado mostra que a taxa de inadimplência variou de 2,9% em setembro para 3% em outubro.
Concessões de crédito livre
As concessões dos bancos no crédito livre caíram 4,3% em outubro ante setembro, para R$ 437,5 bilhões, informou o Banco Central. No acumulado dos últimos 12 meses até outubro, a alta é de 24,2%.
No crédito para pessoas físicas, as concessões subiram 2,1% em outubro, para R$ 241,5 bilhões. No período de 12 meses até outubro, houve aumento de 23,2%.
Já no caso de pessoas jurídicas, as concessões caíram 11,2% em outubro ante setembro, para R$ 196 bilhões. Em 12 meses, a taxa ainda acumula crescimento de 25,3%.
Endividamento das famílias
O endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro também voltou a subir marginalmente, ao passar de 49,8% em agosto para 49,9% em setembro.
Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento ficou em 31,7% no mês, contra um percentual de 31,6% em agosto.
Neste mês, o Banco Central anunciou uma revisão extraordinária na série de endividamento das famílias e comprometimento de renda devido à divulgação do Sistema de Contas Nacionais 2020 pelo IBGE.
A divulgação final pelo instituto provocou uma atualização das estimativas mensais da Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias, utilizada para medir o endividamento e comprometimento de renda.
Apesar da revisão, a trajetória do endividamento continua similar, com o pico da série alcançado em julho — de 50,1%, contra 53,2% antes da revisão — e relativa estabilidade nos meses seguintes.
Segundo o BC, o comprometimento de renda das famílias com o Sistema Financeiro Nacional saltou 1 ponto percentual de agosto para setembro, para 28,7%.
Descontados os empréstimos imobiliários, o comprometimento da renda ficou em 26,6% em setembro, de 25,7% em agosto.
Outros indicadores em operações de crédito
De acordo com o BC, o spread em operações de crédito apresentou elevação em outubro. O spread médio no crédito total, que considera o livre e o direcionado, foi de 18,9 em setembro para 20,1 pontos porcentuais em outubro.
O indicador é calculado com base na diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o que é efetivamente cobrado das famílias e empresas em operações de crédito.
No crédito livre, o spread bancário médio passou de 28,6 pontos porcentuais em setembro para 30,3 p.p no mês passado.
Enquanto isso, o spread médio da pessoa física no crédito livre passou de 41,7 para 44,4 pontos porcentuais entre os dois meses. Já para a pessoa jurídica, a taxa média avançou de 11,1 para 11,7 pontos porcentuais na base mensal.
O spread médio do crédito direcionado foi de 3,9 para 4,2 pontos porcentuais na passagem de setembro para outubro.
Fonte: Estadão