Casal de Bauereck, em Forquetinha guarda recipiente com capacidade de armazenar 100 quilos de carne e feito da raiz de timbaúva A gamela é um utensílio antigo, em formato de tigela oval ou redonda, fabricada tradicionalmente a partir de madeira maciça ou da raiz da árvore, muito utilizada pelos antepassados para a alimentação, principalmente no preparo da carne para o churrasco.
Embora não seja mais tão comum, na casa da família Kraemer, em Bauereck, interior de Forquetinha, ela faz parte de uma tradição herdada por gerações. É comum, aos domingos, na presença dos filhos e de visitas, o artigo ser utilizado para armazenar a carne.
Conforme o agricultor Otávio, de 76 anos, os cortes são temperados e acomodados na gamela por algumas horas, ritual o qual faz toda diferença no sabor e na maciez da carne.
“O sal grosso e os demais temperos que usamos tem tempo para penetrar. O churrasco tem um sabor único, nem se compara ao que salgamos na hora.” E este trabalho é feito pela sua mulher Iracy, uma cozinheira de mão cheia. “Eu amo cozinhar e além da gamela, outro segredo é o amor e o carinho com o qual preparamos tudo.”
Da raiz de timbaúva
A gamela sempre fez parte da vida do casal nos 58 anos de feliz matrimônio. A peça foi confeccionada em parceria com o amigo e vizinho Oterno Gall. Em 1976 os dois foram retirar a raiz de timbaúva do meio do mato.
Passados dois anos do processo de secagem, ela começou a ser moldada de forma manual. “Levamos três dias para esculpir. Foi um trabalho minucioso e de cuidado para atingir a forma e a profundidade necessária. Ela acomoda até 100 quilos de carne.”
Entre os segredos para garantir resistência, destaca a necessidade de ser feita a partir da raiz e não do tronco. “Isso evita que rache logo.” Para conservar, basta lavar com água morna após a retirada da carne e armazenar no porão, de preferência.
“O ideal é colocar em ambientes mais frescos, sem contato com a umidade ou radiação solar. Assim não resseca ou começa a transmitir cheiro ou gosto para a comida.”
Segundo ele, era comum antigamente cada família ter uma gamela. “Ninguém conhecia a bacia de plástico e a de alumínio não era recomendada. Já as bacias esmaltadas eram muito caras e poucos tinham condições de comprar. Por isso, a maioria confeccionava o recipiente de forma manual com madeira de lei.”
Doação
Para manter viva a tradição e fazer com as futuras gerações conheçam a peça e sua utilidade, a gamela foi doada para o Museu Municipal Pastor Ernst Hermann Doebber, localizado nos fundos da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente.
“A gente vai se mudar para uma casa nova em Marques de Souza. Queria que esta história ficasse aqui onde moramos e vivemos por tanto tempo. Fico feliz pelo fato da prefeitura ter aceitado a doação e se dispor a cuidar.”
Um pouco da história
A existência da gamela de madeira teve início lá no século XVIII, mais precisamente em 1870, quando os utensílios de cozinha e acessórios domésticos em geral eram fabricados pelos escravos, principalmente por meio de madeiras retiradas das árvores das fazendas nas quais eles trabalhavam e que os ajudavam em suas tarefas.
Os primeiros modelos de gamela de madeira foram cavados pelos escravos com uma chibanca que formava um tipo de vasilha ou gamela redonda útil para diversos fins, inclusive para servi-los angu e outras refeições.
Informações: Agora no Vale